[Resenha] Dias Perfeitos – Raphael Montes

Título: Dias Perfeitos
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280
Ano: 2014
Classificação: 4,5/5

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Cortesia da Editora :)

Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante – e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional.

Para mim, sempre foi um dos muitos prazeres da leitura aquela descoberta do que vai ser contado somente ao longo da leitura das primeiras páginas. Me basta saber o gênero e uma boa indicação. Gosto de descobrir aos poucos o caráter dos personagens, até onde o autor vai levá-los e o que vai acontecer.

Do autor Raphael Montes só conhecia a recém “fama” gerada pelo seu segundo livro, lançado em 2014 pela Companhia das Letras, e toda a comoção que tem causado. É mais do que merecida. Um autor jovem e com dois livros lançados, um deles pela editora mais queridinha, e fiquei pensando: Será?

Sim, foi.

A leitura já começa frenética, com um estudante de medicina que se sente mais próximo do corpo utilizado para a aula de anatomia – Gertrudes – do que jamais se sentiu por qualquer um, mesmo de sua mãe paraplégica, tão dependente dele. 

Gertrudes era a única pessoa de quem Téo gostava. Desde o primeiro momento, ele soube que os encontros com ela seriam inesquecíveis. Os outros alunos não ficavam à vontade. Mal entravam na sala, as meninas tapavam o nariz; os rapazes buscavam manter alguma postura, mas o olhar revelava o incômodo. Teo não queria que notassem como se sentia bem ali. Andava de cabeça baixa, passos rápidos até a mesa metálica.

Serenamente à sua espera, estava ela. Gertrudes.

Sou apaixonada por bons inícios em um livro. E esse me pegou. Mesmo tendo menos de 300 páginas, demorei três dias para concluir a leitura. Só consegui suportar tantos sentimentos doentios em pequenas doses.

Quando conhece Clarice, seu extremo oposto: jovial, impulsiva e até irresponsável, tudo o que ele não é e nunca será, Téo começou a sentir um amor doentio. O que sabemos é como ele se sente e só podemos supor como Clarice pensa sobre as ações loucas desse homem que se diz apaixonado. As atitudes de Téo, cheias de psicopatias, sempre têm explicação plausível, bem embasadas em seu desejo de fazer o melhor para Clarice. Mesmo que isso signifique amarrar seus pulsos, dopar e amordaçar. Tudo em nome do despertar de um amor.

Enxergava Clarice como um diamante bruto. Todo relacionamento pressupõe troca, um escambo de favores, de maneira que os dois polos se seduzam mutuamente, relegados às próprias surpresas. Téo fora surpreendido por Clarice […]. Sabia também que podia surpreendê-la.

Não pensei que esse Thriller pudesse ser tão surpreendente, mas, como disse, gosto de ser surpreendida. Foram tantas emoções que em um dado momento estava me sentindo saturada do que o ser humano pode fazer em nome do “amor”, acho que o autor me deixou com medo de ser tão amada. E também, o que alguém submetida a tanta pressão e terror pode se tornar. Essas características, para mim, mesclaram ponto positivo e negativo na leitura. Em certo momento estava esgotada emocionalmente, sem saber se conseguia/desejava continuar. Eu queria, mas não queria, entendem?

Até onde você poderia ir se fosse submetida à um amor impulsivo, agressivo e assassínico? Eu não sei a minha resposta.